domingo, 12 de novembro de 2017

Opinião #17: Frankenstein, Mary Shelley














Editora: Ebook
Ano publicação: 1818 (ano da 1ª publicação)
Nº páginas:  222 páginas
Pontuação atribuída: 4 estrelas no Goodreads





Trata-se de um clássico considerado por muitos um livro de horror. Foi escrito no século XIX mas, não deixa de ter premissas extremamente actuais.  
É certo e sabido que sou bastante medricas. Não vejo filmes de terror e tenho bastante renitência em avançar para leituras dentro do mesmo género. Costumo participar em maratonas literárias subordinadas ao tema Halloween mas sou sempre bastante selectiva nas minhas escolhas literárias. Sempre tive algum medo de partir para a leitura do livro sobre o qual vou opinar, muito em parte devido ao imaginário do que seria O Frankenstein, uma criatura vil e irascível com um aspecto medonho. 
Ora este foi mais um dos exemplos de que as ideias pré-concebidas nem sempre correspondem à realidade. Este livro não me assustou, muito pelo contrário, surpreendeu-me bastante. Desconhecia a história e a inspiração da autora para a mesma. De ressalvar que Mary Shelley era oriunda de uma família muito ligada às artes e, desde sempre, sentiu alguma pressão familiar para que, ela própria envereda-se pelo caminho da escrita. Contudo, os anos iam passando e não lhe surgia nenhuma ideia particularmente inovadora (pelo menos aos seus próprios olhos). Até que, numa brincadeira entre amigos, surge o desafio de cada um criar um conto assustador. Estavam nos Alpes e, Mary Shelley, teve a ideia de desenvolver esta história sendo desde cedo incentivada pelo marido, também ele escritor.
Começo por me surpreender ao constatar que se trata de uma história dentro de outra história. A narrativa inicia-se sob a forma de cartas que um investigador, rumo ao pólo norte, escreve para a sua irmã. São relatos da viagem, dos acontecimentos e dos seus sentimentos e emoções. Fala-nos de como se sente só naquele barco, rodeado de pessoas que não compreende e que não o compreendem. Pessoas com as quais não consegue conversar. Reconhece que, não obstante prosseguir o seu sonho de vida, sente falta de um amigo. Reconhece aqui a fragilidade do ser humano, ser social que tem dificuldade em estar e sentir-se só. Entretanto, dão-se acontecimentos surpreendentes que trazem para a equipe de expedição um homem de nome Victor Frankenstein. E aqui dá-se mais uma vez a minha surpresa pois Frankenstein não é o nome do monstro tão temido. É sim o nome daquele que, mais à frente, nos apercebemos ter sido o seu criador. O monstro não tem nome algum.

É nesta parte da narrativa que, Victor Frankestein começa a contar a sua vida ao jovem e os acontecimentos que o levaram a tamanha melancolia e tamanha sede de vingança e sentido de justiça. Tal como o jovem que inicialmente escreve à irmã, também Frankestein havia sido um homem da ciência, um estudioso eternamente insatisfeito que decide criar um ser. Desses seus experimentos nasce o mostro, uma criatura que logo à partida, assusta o seu criador, que foge dele. Isto é o ponto de partida para o desenrolar de toda a história que se move num clima de suspense e com umas tantas reviravoltas e ocorrências surpreendentes. 

Não pude, contudo, deixar achar o monstro extremamente humano. Um ser de tamanha inteligência que tinha por único objectivo ser amado. No entanto, o seu aspecto, era um grande obstáculo à prossecução desse seu objectivo. Por mais que ele fizesse, por mais que tentasse chegar à fala com os humanos e visasse praticar o bem, assim que era visto, era odiado. Todos adoptavam uma postura de terror, fugiam e/ou procuravam defender-se. Acreditavam ser ele a origem de todo e qualquer mal. Sem o conhecerem. Unicamente julgando o seu aspecto. E que mensagem esta tão actual que a autora nos faz chegar a uma sociedade de consumo como a nossa em que se dá o culto do belo e em que se denigre tudo o que foge ao padrão do socialmente correcto e do socialmente aceite.  Se isto assim era no século XIX e o é actualmente, quando deixará de assim ser? Qual será o caminho que temos que percorrer e o que teremos que fazer para mudar mentalidades? Sim, porque é disso mesmo que se trata, mudar mentalidades. E contra mim falo porque todos nós, durante a nossa vida, somos regidos por um sem número de códigos de conduta e por um sem número de preconceitos. 

Não pude deixar de me emocionar com a narrativa do monstro quando fala da sua vida após ter saído do laboratório de seu criador. Os seus devaneios sozinho por esse mundo fora até chegar à propriedade de uma família que ele vai observado, admirando e que, sem saber, lhe vai dando alguns conhecimentos de história e da própria linguagem. O monstro quer ser parte daquela família mas, mais uma vez, não consegue. Tenta então, desesperadamente, que o seu destino se cruze novamente com o do criador e, é aqui que se dá uma trama com pormenores algo macabros.

Não quero falar mais sobre a história em si para não revelar mais do que já revelei. Quero apenas deixar o meu incentivo para que leiam esta obra. Para que não se deixem intimidar por ela e, com a mente em branco, sem muito saber, partam para a sua leitura. 




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